Arquivos reais e imaginários entre Itália e América Latina

As pesquisas realizadas no âmbito do NECLIT são balizadas por uma ideia de contemporâneo que não diz respeito a uma categoria cronológica ou a um enquadramento sinótico da literatura, mas sim a uma abordagem crítico-teórica que enxerga a obra como uma montagem dialética de tempos, como um fluxo em constante deslocamento de pensamentos e linguagens, independente do período de produção do objeto contemplado. Privilegia-se, assim, um método de análise que visa questionar uma visão historicista, taxonômica e assertiva dos textos, potencializando, entretanto, seus momentos de descontinuidade, embates, fratura. Dessa forma, o espaço literário é visto em abertura e diálogo com estatutos de temporalidades diferentes e, simultaneamente, na contraluz de sua época. Os referenciais teóricos que norteiam as investigações e a interação entre os demais pesquisadores vão de Nietzsche a Benjamin, de Blanchot a Foucault, de Agamben a Didi-Huberman, entre outros. É nessa ótica que são trabalhados, frequentemente numa perspectiva comparada, algumas obras, autores e movimentos da literatura italiana.

Arquivos reais e imaginários entre Italia e América Latina

Coord. Prof. Andrea Santurbano (UFSC) e Andrea Gialloreto (Università G. D’Annunzio di Chieti-Pescara)

O projeto é um desdobramento de uma rede internacional de pesquisa sobre o estudo comparado das literaturas italiana e da América Latina, no intuito de analisar os trânsitos e redes culturais entre essas regiões linguísticas e geopolíticas. As vertentes do projeto podem abranger tanto pesquisas relacionadas à análise de arquivos imaginários quanto aqueles fruto de viagens, trocas e contatos, relidos por meio de representações e transfigurações, documentais e/ou ficcionais. Pensa-se nas relações literárias e culturais em um sentido abrangente, como trocas intelectuais e experiências interpessoais, mas também como fluxo de leituras, interpretações, imagens e símbolos. J. Rodolfo Wilcolck, argentino que se muda para a Itália e passa a escrever em italiano; J. L. Borges, que lê Dante; Italo Calvino que lê o próprio Borges, que depois aparece também nos versos de Giorgio Caproni; a Divina Commedia relida desde os Andes por Gamaliel Churata; as célebres viagens de Marinetti, Ungaretti, Gadda, Pasolini, Anita Garibaldi e outros, que passaram pelo território latino-americano; ou pode-se pensar no movimento contrário de José Carlos Mariátegui, Manuel Puig, Murilo Mendes, que tiveram uma experiência na Itália. Um primeiro encontro internacional já foi realizado na UFSC, em 2018, quando foram estabelecidos os eixos das inter-relações e cruzamentos entre as culturas envolvidas. Em 2019, foi realizado um segundo encontro internacional na Università di Chieti, dedicado a Juan Rodolfo Wilcock. Essa rede de pesquisa irá propiciar diferentes espaços para debates e trocas acadêmicos, produções científicas em forma de livro e artigos, intercâmbios entre pesquisadores e alunos de Pós-Graduação, contribuindo dessa forma para a consolidação de uma rede internacional de pesquisa. As instituições envolvidas nesse projeto são, além da UFSC: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Università di Chieti, Università di Roma Tre, Universidad Complutense de Madri, Università di Siena, Università La Sapienza di Roma, Università di Roma Tor Vergata, Universidad de Buenos Aires, Universidad Nacional de San Marcos.