2. Conectando Línguas e Culturas

Conectando línguas e culturas: a literatura italiana (des)traduzida no Brasil

Sexta, 02 de dezembro 2022 – Auditório H. Fontes – CCE

8h20 – Abertura
8h30 – Mesa-redonda 1
– Elena Santi (UFJF) – Tradução e tradição: ecos e encontros da literatura italiana traduzida no Brasil
– Cláudia Alves (UFSC) – Pasolini lido no Brasil: fluxos entre a crítica e a tradução
–  Francisco Degani (Tradutor |NECLIT ) – Dicionário Bibliográfico de Literatura Italiana Traduzida no Brasil como fonte/ponte de pesquisa

10h15 – Mesa-redonda 2
– Aline Fogaça (UFRGS) –  “Entre tradução e doutrina”: a domesticação do texto papiniano
– Daniela Bunn e Agnes Ghisi (UFSC) – Reflexões a respeito do ensino-aprendizagem de LE em uma turma da terceira idade: memória e migração nas literaturas afro-italiana e brasileira
– Graziele A. Frangiotti (UFSC) – O estudo da tradução a partir de metodologia baseada em corpus


Resumos

Tradução e tradição: ecos e encontros da literatura italiana traduzida no Brasil – Elena Santi (UFJF)
O desassossego que, por vezes, acompanha a leitura de obras traduzidas, se liga, inevitavelmente, ao encontro com algo familiar e, contudo, estranho, que se abriga nas entrelinhas, percorre subterraneamente as palavras e ressoa como um eco distante. É o encontro com a pluralidade que habita toda língua, revelando sua complexidade. As obras traduzidas, por sua vez, carregam fragmentos de tradições que, acolhidos em novos sistemas, estabelecem relações, abrindo possibilidades de leituras outras. O Dicionário Bibliográfico da Literatura Italiana Traduzida no Brasil pode se tornar um instrumento fundamental para percorrer algumas dessas trilhas, uma vez que nos permite reconstruir trânsitos e histórias desses contágios. A partir das reflexões de pensadores como Itamar Even-Zohar, Barbara Cassin e Sylvia Molloy, entre outros, e dos dados extrapolados do Dicionário, analisaremos exemplos de como os contatos, por meio da tradução, entre as tradições literárias italiana e brasileira provocam curto circuitos de tempo e espaço, em que os estilhaços das tradições passam a compor novas imagens, que permitem, não apenas olharmos para o outro, quanto, ao mesmo tempo, para nós mesmos.

Pasolini lido no Brasil: fluxos entre a crítica e a tradução – Cláudia Alves (UFSC)
Considerando desde as primeiras críticas e traduções, publicadas ainda entre os anos de 1960 e 1970, até publicações mais recentes, esta apresentação pretende recuperar e analisar algunsmomentos fundamentais da circulação da obra de Pier Paolo Pasolini no Brasil. Nosso principal objetivo é refletir sobre a sua recepção a partir dos fluxos críticos e tradutórios, entendidos aqui como movimentos interdependentes. Para tanto, serão utilizados como materiais de apoio o Dicionário Bibliográfico da Literatura Italiana Traduzida no Brasil, a fim de reunir dados referentes às traduções publicadas, e a coletânea Um intelectual na urgência: Pasolini lido do Brasil (2022),
pensada enquanto um panorama dos estudos brasileiros ao redor do pensamento pasoliniano.

Francisco Degani (UFSC) – Dicionário Bibliográfico de Literatura Italiana Traduzida no Brasil como fonte/ponte de pesquisa

O Projeto Dicionário Bibliográfico de Literatura Italiana Traduzida no Brasil desenvolvido desde 2010 pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) é uma importante ferramenta para incentivar e auxiliar a pesquisa da cultura literária que une dois países, duas línguas, dois modos de ver o mundo. Com a nova plataforma, criada em parceria com o NUPILL (Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Linguística), o usuário terá aumentada a possibilidade de pesquisa, podendo pesquisar em um banco de dados que permite fazer correlações, estatísticas e comparações entre as obras publicadas nos dois países, envolvendo todos os elementos (tradutores, editoras, paratextos, capas, ilustrações, etc.) que atuam nessa viagem. O pesquisador, ou simplesmente o usuário curioso e diletante, poderá, através das relações e gráficos que essa plataforma permite, responder perguntas relativas à sua linha de pesquisa, como também compreender como se dão as relações de contágio e transição entre as duas culturas por meio da tradução.

“Entre tradução e doutrina”: a domesticação do texto papiniano- Aline Fogaça (UFRGS)

O mapeamento realizado para a construção do Dicionário Bibliográfico da Literatura Italiana no Brasil permitiu aos pesquisadores envolvidos nesse projeto o contato com um corpus significativo de diversas obras e autores da literatura italiana traduzidos no Brasil. A partir dessa relação, as pesquisas desenvolvidas por seus participantes, tanto no âmbito da graduação quanto da pós- graduação, parecem ter enfatizado, em um primeiro momento, o produto da tradução. Entre essas, elenco a minha tese de doutorado, Giovanni Papini iconoclasta e religioso: diferentes fases da recepção do escritor florentino no Brasil (2017), cujo objetivo foi o de mapear a recepção e a repercussão das obras de Giovanni Papini traduzidas no Brasil. Em ocasião desta nova proposta sobre o Dicionário, pautada, sobretudo, no processo tradutório das obras catalogadas, faz-se oportuno retomar os estudos de doutoramento, agora sob o viés da (des)tradução. Nesse sentido, a presente comunicação tem por objetivo refletir sobre as tais zonas tortuosas presentes no
contato entre línguas, literaturas e culturas; e, no caso da obra de Papini, com especial atenção às deformidades e à domesticação do texto traduzido em prol de uma ideologia atrelada ao conservadorismo da sociedade brasileira. Reflexões a respeito do ensino-aprendizagem de LE em uma turma da terceira idade: memória e migração nas literaturas afro-italiana e brasileira

Reflexões a respeito do ensino-aprendizagem de LE em uma turma da terceira idade: memória e migração nas literaturas afro-italiana e brasileira – Daniela Bunn e Agnes Ghisi (UFSC)
Ensinar LE no Brasil, hoje, é desafiador, mas também peculiar. Iniciativa como a realizada no Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vinculada ao estágio supervisionado do curso de Letras Italiano, teve como objetivo o ensino do italiano com temáticas sensíveis e engajadas, visando ao bem-estar e à participação ativa da pessoa idosa (BELLA, 2008). Pensar a pessoa idosa como alguém que continua se desenvolvendo e que é capaz de aprender e expandir o próprio universo a partir da leitura como um prazer (BALBONI, 1994) foi também um dos objetivos e motivação do estágio. Procurou-se trazer para o
debate questões socialmente relevantes que estimulassem um olhar sensibilizado e plural a partir da literatura. Em particular, com La mia casa è dove sono (2010), de Igiaba Scego, propuseram-se discussões que abordassem o tema da memória, da imigração e do reconhecimento de questões interculturais (MENDES, 2015). Isso permitiu um diálogo em que tensões do cotidiano brasileiro puderam ser encaradas a partir do (con)texto italiano. Neste artigo, pretende-se refletir sobre as questões que surgiram e que foram promovidas por essa experiência de estágio, sobre como as temáticas propostas foram recebidas pelo grupo, e sobre como o ensino de língua apresentou certa emancipatoriedade, quebra de estereótipos e revisão de (pre)conceitos. 

Graziele A. Frangiotti (UFSC) – O estudo da tradução a partir de metodologia baseada em corpus
Os Estudos da Tradução surgem a partir da década de 1960 como uma área eminentemente interdisciplinar que conecta desde ciências afins, como Literatura e Linguística, até campos com escopos inicialmente distantes, como a Informática, a Neurofisiologia, as Ciências Cognitivas, entre outros. Diante desse caráter multifacetado, a presente comunicação constituirá uma breve apresentação do profícuo diálogo estabelecido nos últimos anos entre Estudos da Tradução e Linguística de Corpus, buscando evidenciar, por meio de exemplos de pesquisas já realizadas e da demonstração de algumas ferramentas computacionais, as inúmeras possibilidades que se abrem para os estudiosos interessados em investigar o processo de tradução quer esse interesse recaia sobre a busca dos elementos que normalmente representam obstáculos linguísticos e culturais à atividade tradutória quer abarque o estudo dos caminhos e alternativas para a superação de tais problemas. Nesse sentido, as reflexões a serem desenvolvidas tomam o Dicionário de Literatura Italiana Traduzida como ponto de partida para que novos olhares sejam lançados sobre a tradução no par italiano-português, tendo como cerne o texto literário.

Sobre os Palestrantes


Agnes Ghisi é mestranda em literatura (PPGLIT/UFSC). Sua pesquisa se concentra na produção poética de Alda Merini, particularmente nos escritos que tratam do manicômio.

Aline Fogaça  possui licenciatura plena em Letras (português e italiano) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, com intercâmbio de estudos na Università degli Studi di Perugia, mestrado em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutorado em Letras (Língua, Literatura e Cultura Italianas) pela Universidade de São Paulo. É professora do Departamento de Línguas Modernas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, membro do Núcleo de Estudos Contemporâneos de Literatura Italiana (http://neclit.paginas.ufsc.br/) e do Núcleo de Estudos de Tradução Olga Fedossejeva (http://www.ufrgs.br/net).

Claudia Alves é atualmente professora substituta no DLLE, área de Italiano, da UFSC. Em 2022, publicou os livros “Pasolini em polêmica: interlocuções de um intelectual corsário”, fruto de sua pesquisa de doutorado defendido em 2020 na Unicamp, e “Um intelectual na urgência: Pasolini lido no Brasil”, organizado com Maria Betânia Amoroso. Publicou também as traduções “Meus poemas não mudarão o mundo”, de Patrizia Cavalli, e, em parceria com Elena Santi, “Virá a morte e terá os teus olhos”, de Cesare Pavese. Atualmente, seu principal interesse de pesquisa é investigar, na teoria e na prática, a tradução de intertextualidades presentes na poesia contemporânea. 

Daniela Bunn – Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina onde ministrou disciplinas no Departamento de Metodologia do Ensino (MEN/CED) nos cursos de Letras Português, Letras Italiano e Pedagogia. Trabalha com as temáticas Literatura, Artes e Imagens; Leitura e Formação de Leitores; Literatura e Infância; Língua Portuguesa, Literatura Italiana, Literatura e Ensino; Formação de Professores; Metodologias de Ensino, Estranhamento, Intertextualidade e Gêneros Textuais no quotidiano escolar. Possui graduação em Letras Português-Italiano e Mestrado em Literatura pela UFSC, atuou como professora de italiano no Curso Extracurricular e como tutora no Ead/Letras-Espanhol. Traduziu treze livros de literatura infantil (italiano/português e português/italiano) alguns selecionados para o PNBE/MEC e outros para o programa “Livros da Sala de Aula”, da Secretaria de Educação de São Paulo. Tem artigos publicados na área de literatura, tradução, metodologias do ensino, bem como alguns poemas. Trabalhou no Curso de Especialização em Mídias na Educação, UAB/EAD, no Instituto Federal de Santa Catarina e atuou no Ensino Médio e Fundamental no Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires (por cinco anos). Ministra oficinas e cursos de formação de professores. Ganhadora do Prêmio de Literatura da Fundação Catarinense de Cultura, em 2015, tendo como prêmio a publicação do livro: “O alimento na Literatura (2016). Participou da coletânea “Literatura Infantil e Juvenil – do literário a outras manifestações estéticas”, livro ganhador do Prêmio FNLIJ 2016 categoria Melhor Livro Teórico do Ano. Esteve em licença maternidade durante o ano de 2016 e, posteriormente, em 2018. Atualmente é professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, vinculada ao Departamento de Metodologia de Ensino e atua no curso de Letras Italiano. É subcoordenadora voluntária do Projeto Multidisciplinar PIBID Línguas Estrangeiras/Adicionais (UFSC), membro do Núcleo Institucional de Línguas e Tradução (NILT/UFSC), membro do Núcleo de Estudos em Língua Italiana no Contexto Brasileiro (NELIB) e coordenadora do Projeto de Extensão Italiano per tutti iniciado em 2019. Membro do Colegiado do Departamento de Língua e Literatura Estrangeira (CCE/UFSC) de 2019 a 2021, membro do Núcleo Docente Estruturante do curso de Italiano (NDE) desde 2018. 

Elena Santi  é pesquisadora e tradutora de literatura italiana. Traduziu versos de Giovanni Raboni, Patrizia Valduga, Cesare Pavese, entre outros. Publicou, em 2017, junto com Patricia Peterle, a antologia Vozes: cinco décadas de poesia italiana (Editora Comunità). É professora de língua e literatura italiana do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas (DLEM) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e docente do Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos literários sempre da UFJF. É doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Suas pesquisas se concentram na poesia italiana contemporânea, na literatura comparada e na tradução.

Francisco Degani  é engenheiro, administrador e doutor em literatura italiana pela Universidade de São Paulo, graduado em língua, literatura e cultura italianas pelo Consórcio ICON, com sede na Universidade de Pisa. De Luigi Pirandello já traduziu O falecido Mattia Pascal [Nova Alexandria (2007) / Abril (2010)], O marido dela [Folha de São Paulo (2016)/Nova Alexandria (2021)] e Novelas inéditas [Nova Alexandria (2017)], vencedor do prêmio Paulo Rónai de tradução, de 2012, da Fundação Biblioteca Nacional, com Os noivos, de Alessandro Manzoni [Nova Alexandria (2012)], Finalista do Prêmio Jabuti, de 2019, com O conto dos contos, de Giambattista Basile. Pela coleção Estudos Italianos, já publicou Pirandello ‘novellaro’. Da forma à dissolução [Nova Alexandria (2009)] e Pirandello e a máscara animal [Nova Alexandria (2015)]. É um dos coordenadores do grupo de pesquisa “Literatura Italiana Traduzida no Brasil”.

Graziele Frangiotti é mestre e doutora em Letras pela USP, tendo se dedicado nos últimos anos ao estudo do lugar da variação linguística em livros didáticos voltados ao ensino do italiano, ao desenvolvimento da competência sociolinguística em aprendizes brasileiros e à investigação do italiano contemporâneo em diferentes contextos de uso. É professora adjunta da UFSC e vice-coordenadora do Núcleo de Estudos Contemporâneos de língua e literatura italiana. Integra o Núcleo de Estudos em Língua Italiana em Contexto Brasileiro (NELIB), o Grupo de Estudos Pesquisa em Ensino Aprendizagem de Línguas: uma abordagem quantitativa (EALQ) e o Grupo de Estudos Evidências Empíricas. Seus interesses atuais são: a descrição de traduções de obras italianas para o português a partir de ferramentas da Linguística de Corpus e o exame de estruturas linguísticas do italiano em gêneros textuais orais e escritos.