Luiz Paulo de Castro | Universidade Federal de Santa Catarina

Luiz Paulo de Castro

Universidade Federal de Santa Catarina
Bolsista PIBIC-CNPq
Atua no Dicionário Bibliográfico de Lit. Italiana Traduzida


ㅤㅤㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ

Projeto de Pesquisa | Conectando Culturas


ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ

Ciclo 2023-2024

No âmbito das atividades de pesquisa do projeto Conectando Culturas (CNPq 407739/2022-0), que tem como um dos eixos o desenvolvimento e alimentação do Dicionário da Bibliográfico Literatura da Italiana Traduzida, o objeto deste plano de trabalho é refletir sobre a circulação da poesia de Eugenio Montale (1896-1981), um dos principais autores do século XX italiano, no Brasil. Para tal, além das traduções que começam a circular em livro a partir de 1976, far-se-á uma pesquisa com fontes primárias, sobretudo, a partir da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Numa busca inicial, é possível identificar que a primeira notícia em relação ao poeta registrada na imprensa brasileira data de 1928, nas páginas do periódico L’imparziale, publicado em língua italiana. Não se trata de um artigo sobre Montale, é uma notícia sobre a publicação de uma antologia de poesia italiana em Paris. O nome de Montale aparece mencionado ao lado dos de Ungaretti, Quasimodo, Saba. Esta notícia da publicação da antologia francesa dedicada a poetas italianos, ao lado de outras, confirma que nessas décadas há um forte interesse pela cultura italiana. O que pode ser corroborado, na década seguinte, em 1934, quando se tem no Jornal do Brasil o convite para um evento de leituras de poemas, aqui também encontramos o nome de Montale, como uma referência para aquele momento. Éjustamente, nesta década (a de 1930), depois da publicação na Itália, em 1925, de Ossi di seppia, que o nome do poeta genovês passa cada vez mais a ganhar a atenção de leitores e da crítica brasileira. Entre os críticos e intelectuais que escreveram sobre Montale figuram os nomes de A. Bosi e I. Bosi, H. de Campos, Carpeaux,  C. B. Kopke, H. Lisboa,Ruggero Iacobbi (que passou um longo período no Brasil), Edoardo Bizzarri (intelectual fundamental entre as culturas italiana e brasileira), João Manuel Simões. Todos eles são de algum modo mediadores da figura e da obra de Montale em nossa cultura. Esses artigos, que com o desenvolvimento deste Plano de Atividades poderão ser mapeados e catalogados, trazem uma imagem complexa de Montale, perpassando pela atividade de crítico musical (exercida para o jornal Corriere della Sera), pela atividade de tradutor de Shakespeare (há uma peça encenada no Brasil em italiano, em medos da década de 1950 que comprova isso), pela atividade, sobretudo, de poeta. Esta última ganha uma atenção maior a partir de 1975, quando Montale ganha o Prêmio Nobel. Não é uma mera coincidência que sua primeira obra traduzida seja publicada em 1976, logo depois da premiação, que é acompanhada por um emblemático discurso “Sulla poesia”. Todavia, surpreende o fato de esta primeira tradução não ser de uma obra poética, mas sim de uma coleção de contos “A borboleta de Dinard” (1976), pela Nova Fronteira. As traduções poéticas são todas posteriores: Poesias (1997),  Diário póstumo (2000), Ossos de sépia (2002).


Ciclo 2022-2023

A presente pesquisa, realizada durante o ciclo 2022/2023 do PIBIC, sob a orientação da profa. Dra. Patricia Peterle, iniciou com o objetivo de realizar uma investigação a respeito do uso do soneto em Il Galateo in Bosco. Enquanto minha colega Ângela Prestes  foi encarregada de se dedicar sobre obra de Giorgio Caproni, a mim foi destinada a escrita de Andrea Zanzotto pelo material já citado. Sendo assim, algumas perguntas foram lançadas pela nossa orientadora para começarmos a pensar a poética de ambos os autores dentro de seus contextos, como: que tipo de poesia era feita na Itália antes da Segunda Guerra mundial? Deste modo, pudemos começar a desenvolver uma leitura crítica através dos materiais previstos para entender o conceito de poesia hermética, na tentativa de explorar uma tendência de poesia pura através da linguagem poética que se afasta o máximo possível da comunicação verbal. A obra de Andrea Zanzotto (1921-2011) é reconhecida principalmente pelo seu caráter de poesia complexa e inovadora que explora temas como a natureza, a história, a língua e a identidade cultural. Inspirado pela paisagem de sua terra natal, o pequeno vilarejo Pieve di Soligo (Treviso), o poeta provém de uma geração que é posterior a de Eugenio Montale e Giuseppe Ungaretti. Sua escrita coleciona um acervo poético que se caracteriza por uma linguagem experimental, fragmentada e não linear, desafiando e rompendo com as formas já estabelecidas da poesia tradicional. O poeta publicou mais de vinte livros de poesia ao longo de sua carreira, tendo como protagonistas de sua escrita dois elementos fundamentais: natureza e guerra.
Ambas podem ser consideradas as temáticas principais na poesia zanzottiana, visando que o escritor trouxe em sua pele as consequências ocasionadas tanto pela Primeira Guerra, considerando que o poeta nasce em 1921, quanto pela Segunda, experienciada em primeira pessoa na colaboração com os Partigiani, produzindo panfletos de manifestos antifascistas. No que diz respeito à natureza, Zanzotto é oriundo de uma pequena cidade, Pieve di Soligo, ao pé dos alpes, cenário dos tapetes verdes, das papoulas, da neve, do perfil das montanhas presentes em seus poemas. A neve vermelha presente nos poemas dispersos, organizados por Francesco Carbognin em 2023, marca o encontro dramático entre guerra e natureza, o qual já estava presente no texto Os companheiros que correram na frente, do livro Vocativo, que na tradução brasileira faz parte de Primeiras paisagens. A guerra e a natureza, portanto, se entrelaçam em sua poesia fazendo com que uma paisagem acolhedora se transforme num espaço perturbador. Em Il Galateo in Bosco uma imagem que sobressai é a dos corpos e ossos dos soldados da Primeira Guerra que se deterioram e se misturam com outros elementos orgânicos da terra. A ausência da presença humana que vem vindo desde seus primeiros livros alcança, aqui, uma tensão mais do que significativa para a sua poesia.