O que pode a literatura no fim do mundo?

23/11/2025 23:18

Dois livros da poeta, romancista e ensaísta Laura Pugno se juntam à produção de pensares sobre nossas relações com as florestas, os animais e a escrita no Antropoceno, por Cláudia Lamego

Talvez esta frase, logo no início de Nós sem mundo, de Laura Pugno, seja uma boa definição de seu livro. Um “caderno de apontamentos” que começa com três espécies de contos nos quais ela dialoga com outras obras para pensar o que pode a literatura, em última análise, a poesia, no momento em que nos aproximamos do fim, na era do Antropoceno. Pugno parte de A arte da guerra, escrito no bambu, no século II a. C., para pensar num texto composto em folhas, em pedaços de córtex e em corpos de homens e mulheres, que morrem e viram sementes e raízes, para escrever “Nova arte da guerra”. Passa por O último dos moicanos, de James Cooper e chega a Floresta é o nome do mundo, de Ursula Le Guin, nos outros dois textos, “Uma variação sobre o tema. Alegoria H” e “Caixa-Preta”, para apresentar o seu projeto: um palimpsesto de ensaios, escritos e reescritos em três épocas de sua vida, incluindo os anos de pandemia, os quais ela divide em busca, perda e metamorfoses.

É intrigante esse livro-projeto de Laura Pugno, que se entrelaça à sua obra romanesca e poética (ainda não traduzida por aqui), pois a autora italiana reflete também em seus textos ficcionais sobre as relações entre tradução e linguagem, corpo e escrita, sobrevivência e fim, comunicação inter-espécies, desde o seu primeiro romance Sirene (2007), uma espécie de distopia na qual a humanidade tenta sobreviver no escuro e em cidades subaquáticas.

Além de Nós sem mundo, Laura Pugno está no Brasil também para lançar o volume de poesia Branco, em edição bilíngue, pela Urutau. Publicado na Itália em 2016, o livro é composto de 68 poemas divididos em cinco sessões: “O início do inverno”, “De branco em branco”, “Dar calor”, “Era isto que buscava?” e “clarão, clarão”. Ele nasce de um período de perdas e lutos, preenchendo um período de silêncio da autora. No prefácio, a tradutora Patricia Peterle apresenta as principais características da poesia de Pugno: rarefeita, hibridez, feita de sensações, reverberação de sons, luminosidades, reflexos e desdobramentos de imagens e palavras.

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