Lucia Wataghin | Universidade de São Paulo

Lucia Wataghin

Universidade de São Paulo
Atua no Dicionário Bibliográfico de Lit. Italiana Traduzida


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Por que retraduzir?

Em tempos recentes os estudos de tradução têm começado a se ocupar intensamente das retraduções. Por que, quanto, quando, com que frequência, como, quem retraduz obras que já contam com traduções presentes em bibliotecas ou até ainda em comércio em livrarias? Quais são os efeitos da presença das obras retraduzidas, no mercado das letras, ou nas relações entre o que chamamos de sistema da literatura traduzida (Even-Zohar) e o polissistema? Em que relação as retraduções se colocam entre si e com o texto fonte? O que podemos deduzir, a partir da quantidade de obras retraduzidas e do prestígio e do alcance de suas editoras, sobre as relações, assimétricas, entre as diferentes literaturas? No Brasil, obras como a Divina Comédia, o Decameron, o Príncipe são constantemente e maciçamente traduzidas e retraduzidas, enquanto outras, de status e fama comparável, na república das letras, nunca foram traduzidas e, muito menos, retraduzidas. Nesse sentido, é emblemático o caso do Cancioneiro de Petrarca, fundador de uma tradição que alimenta também a poesia brasileira, mas que só teve duas traduções parciais (em 1843 e em 1945) e só começa a ser traduzido no Brasil a partir dos anos 2000. A onda de retraduções começa, curiosamente, com a publicação, no Brasil, da tradução portuguesa de Vasco Graça Moura, do Cancioneiro (ed. Bertrand, 2003) e cresce significativamente com a primorosa tradução de José Clemente Pozenato (2014) e duas traduções parciais (2013 e 2023), limitadas aos sonetos. Observando o percurso das mais recentes, últimas publicações do Cancioneiro, completas e parciais, no Brasil, surge uma pergunta: retraduções inspiram novas retraduções? Na leitura dessa tradição reconstituída, será especialmente importante a observação de paratextos, que iluminam o fluxo das retraduções, as razões, os escopos, as identidades de tradutores e editoras.