Seminari di Ricerca del NECLIT 2022

O seminário de pesquisa NECLIT foi pensado para que os integrantes do Núcleo possam apresentar o desenvolvimento de suas pesquisas buscando diálogos com diversos interlocutores. O objetivo é expandir as possibilidades de cada pesquisa por meio de problematizações, questionamentos e do confronto de ideias. Esses encontros podem aprofundar e abrir para outros caminhos que ajudem a indagar os objetos das pesquisas. O solitário trabalho do pesquisador atinge seus propósitos a partir do compartilhamento de ideias e resultados parciais e finais.

Após as comunicações haverá um momento de discussão e conversa aberto a todos.

                        

Inscrições para ouvintes: https://forms.gle/EwXbAFM9CQg2eGka8

Atenção: vagas limitadas

9h – 12h 

ABERTURA

CORPO, IMAGEM E MEMÓRIA

Coord. Cláudia Alves

Corpos e olhares: as narrativas de Elsa Morante e Clarice Lispector

Helena Bressan Carminati

“Nunca há […] um corpo sem outros corpos” (NANCY, 2015, p. 7). A partir da concepção de corpo que explora o contato com um dentro e um fora, com a subjetividade do sujeito e o mundo externo, o objetivo desta comunicação é propor uma leitura cruzada entre dois romances que trazem em seu cerne corpos, sobretudo de mulheres, que estão alheios, cerceados, mas que, apesar disso, resistem e se mantêm vivos. Trata-se de Ida e Macabéa, as criaturas de Elsa Morante e Clarice Lispector, respectivamente. A primeira protagoniza o romance A História, publicado em 1974, na Itália. A segunda é a personagem principal de A hora da estrela, lançado três anos depois, em 1977, no Brasil. O que essas personagens significam? O que elas podem, em conjunto, nos dizer? Como seus corpos existem e resistem? Essas são algumas das questões que deverão nortear nossa escrita.

A terra agreste e a grotesca natureza humana em Gaibéus e Fontamara

Rafael Reginato Moura

O grotesco, como traço estético afeito à metamorfose, à antropomorfização, à fusão ou mistura física de formas humanas, animais, vegetais, minerais, e que guarda ainda uma possibilidade de adulteração moral, parece servir à análise de obras literárias neorrealistas como Gaibéus e Fontamara. Percorrer, portanto, os lastros narrativos de figuras que se desfiguram, de figuras de não-figuras, é considerar a ação natural da deformação atuando sobre uma visão sublimemente bestial, monstruosa, desagradável e sub-humana numa perspectiva de um real “deformidável”. No terreno da estética, agora agreste, áspero, árido, ácido, é ainda considerar o grotesco a mais rica fonte que a natureza pode abrir à arte, como quer Victor Hugo. Nos romances Gaibéus e Fontamara, o homem simultaneamente se disforma e se conforma na realidade atroz que, se imutável nas condições laborais, encontra na desfiguração, no devir animal e na paisagem agreste indômita, ecos anacrônicos de uma re-presentação literária e visual que não cessa de atualizar-se. O rosto de um mundo sem rosto, nas palavras do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt, que merece ser vivido apenas na inércia dos dias sempre iguais e diferentes. Vidas heroicamente menores, “jornaleiras”, que, sob a égide da deformação grotesca, resistem em suportar o mesmo e degenerado agreste.

Michele Mari: categoria, obsessão e escrita

Victor Gonçalves

A partir da seleção de alguns contos publicados por Michele Mari na década de 90, mas também incluindo algumas passagens do seu último livro, Le maestose rovine di Sferopoli (2021), pretendo apresentar uma leitura da escrita literária de Mari que tem por base os termos obsessão e categoria. Não entendo aqui a obsessão como um problema teórico da psicanálise, mas como “destino e forma, neurose e escrita, e escrever significa ‘entregar-se indefeso às garras dos demônios’” (MARI, 2017). Pretendo discutir aspectos da experiência do eu na narrativa mariana (como se, diante de um espelho, pudéssemos desaparecer), da sua relação com a imagem (o desenho, sua primeira forma de narrar, principalmente aquele de que Italo Calvino tem notícia) e a sua relação com a tradição (o passado, de onde em Mari provém o amor). Tais relações tendem a atravessar-se, e os conceitos “obsessão” e “categoria” servirão como mobilizadores – e não definidores – para compreender e analisar essas relações de uma escrita que questiona os limites e limiares do fazer literário contemporâneo.

Ruinância do Corpo – Inquietudes na poesia de Antonella Anedda

Tatiara Pinto

O objetivo dessa comunicação é abordar a relação corpo-mundo na obra Dal balcone del corpo (2007) de Antonella Anedda, precisamente o limiar entre o corpo dentro e o corpo fora, a tensão entre o conforto do lar que protege e a ação em resposta aos delitos do mundo. A noção de ruinância, um neologismo utilizado por Walter Benjamin que Theodor Adorno retoma, enquanto movimento de perecer ao mesmo tempo que passa recolhendo e reforçando o encanto mítico e que lança seu olhar além, juntamente com a ideia de interpelação, proposta por Judith Butler, auxiliará no percurso de observação dessa poética ao lidar com inquietações éticas. Ver-se-á ainda como neste livro se opera a ausência de uma voz comum e como isso infiltra a linguagem, nos recursos sintáticos indicativos de uma busca formal por novos sentidos. O risco, a culpa, a laceração do mundo, as injustiças e a morte também irão compor essa leitura.

14h – 17h30m

RESÍDUOS E SEUS LIMITES NO TEMPO

Poetizar o vivido: a escrita de si em La Terra Santa de Alda Merini

Agnes Ghisi

Alda Merini inicia sua trajetória literária bem cedo, em 1951, e também cedo ela é interrompida, com o internamento da autora no manicômio Paolo Pini de Milão, em 1964. Em La Terra Santa (1984), uma das obras mais lidas e discutidas da autora, Merini retoma as experiências no manicômio, e parece escrever para estabelecer uma nova relação com o que viveu naquele espaço. Para Foucault (2004), a escrita de si é uma técnica que age sobre a pessoa escrevente, ou seja, trata-se de uma ação no sujeito. Giorgio Agamben (2018) retoma esse conceito de Foucault e considera que a escrita é uma atividade, como um jogo para uma criança, que opera uma mudança na relação que o eu estabelece consigo mesmo, uma transformação na relação ética. Poetizar o vivido, então, na escrita meriniana pode ser lido como uma escrita de si, de retomada da própria biografia e do controle da própria vida. Essa transformação permeia os versos merinianos: a sintaxe, o léxico, os efeitos sonoros são recursos linguísticos que a autora trabalha como modo de evocar as experiências no manicômio e, com isso, operar essa transformação. Nessa comunicação, me volto para a análise de poemas desse contexto.

“I gettoni”: a collana-rivista de Elio Vittorini

Fabiana Assini

A coleção editorial “I gettoni” esteve ativa entre os anos de 1951 e 1958. Seu catálogo contou com 58 títulos, de escritores italianos e estrangeiros. O projeto, idealizado e dirigido por Elio Vittorini, foi financiado pela Einaudi. Esta comunicação busca delinear uma perspectiva da coleção como revista, definição dada pelo próprio Vittorini, considerando-a parte de um projeto editorial mais amplo, que abarca tanto Il Politecnico (1945-1947) quanto Il menabò (1959-1967). A partir disso se pensará, em específico, quais as semelhanças possíveis da coleção editorial com a revista Il Politecnico e como a figura de Vittorini, sendo um literato-editor, influencia esse projeto. Visto que se trata de um acervo narrativo e experimental, há ainda elementos característicos da coleção (como os famosos risvolti de Vittorini) que podem ser percebidos como fundamentais para a relevância desse projeto editorial. Pretende-se com esta comunicação trazer um levantamento do que já foi publicado sobre “I gettoni”, algumas considerações unânimes entre os críticos e possíveis questionamentos ainda em aberto que nos permitam olhar criticamente para essa coleção.

Tempo e violência de Estado: a cronosofia da vítima em Rosso Nella Notte Bianca

Leonardo Bianconi

No romance Rosso nella notte bianca (2016) de Stefano Valenti o protagonista Ulisse mata um homem em praça pública com pancadas de picareta. Vítima de violência de Estado durante a guerra civil italiana, o ex-partigiano Ulisse não encontra outra saída se não vingar-se matando um ex-fascista que ele reconheceu com certa dificuldade por conta do passar dos anos. Sua vingança é completada quase 50 anos depois dos ocorridos. O tempo cronológico não condiz com a percepção temporal da vítima de violência de Estado: a vítima vive em um passado que não passa. Partindo dos estudos históricos de Berber Bevernage – que discute violência de Estado, tempo e justiça colocando em cheque a linearidade e a irreversibilidade do tempo histórico – pretendemos nesta comunicação pensar como a narrativa que, segundo o filósofo Franco Rella, reconfigura a experiência temporal ao aproximar eventos distantes pode nos permitir pensar sobre esse tempo da vítima de violência de Estado que vive num passado que insiste em não passar.

As presenças e ausências do lar em Léxico familiar

Rafaela Cechinel

As relações humanas e a memória podem ser lidas como os fios condutores que ligam os escritos de Natalia Ginzburg (1916-1991). Em Léxico Familiar (1963), sua principal obra, nos é apresentando um acumulado e concreções de vozes, objetos, e gestos colecionados ao longo dos anos pela autora, que os faz reviver a partir dos desdobramentos da memória. Num ato de colecionador, a autora recria o lar em que cresceu a partir dos pequenos detalhes deixados pelo rastro da memória. Partindo do léxico e da rememoração, pensar-se-á na forma que se constrói, em Léxico, a ideia de lar, quem são as pessoas que respiram esse ar da casa Levi e que falam essa língua; de que maneira as presenças (e ausências) se manifestam nessa casa. Entende-se o espaço como algo coletivo, que é construído a partir da multiplicidade de sujeitos que o compõem, portanto, é necessário entender a partir de quem se constrói esse lar e como essas relações se reverberam dentro de sua escritura.

A última carta. O que é uma carta de um condenado à morte?

Comentários da entrevista ao Prof. Giovanni Vitali, por Leonardo Bianconi

ENCERRAMENTO