Encontros com Laura Pugno
Nos encontros teremos conversas com a participação da autora e de convidados especiais para tratar dos seus dois livros traduzidos no Brasil: Nós sem mundo (7Letras) e Branco (Urutau).
Teremos também a leitura de alguns trechos dos de Nós sem mundo (7Letras) e Branco (Urutau).
“Escreve, e pensa que a consciência se expande no corpo como se fosse um fluido, um líquido, uma luz. Como se tivesse um centro e uma periferia. E se ao contrário? Se viesse das pontas extremas – os dedos, os cabelos – do corpo, não seria um líquido, uma luz?”
“Laura Pugno nos oferece um exercício de ficção especulativa, na direção das propostas de Donna Haraway para Ficar com o problema em meio à crise do Antropoceno e das ideias de Ursula K. Le Guin da necessidade de uma nova teoria da ficção, de formas de narrar não lineares para contar a história da vida em sua diversidade. Na proposta de Pugno, as palavras se fundem, tatuadas, nas pessoas, e gravam-se também em línguas não humanas na diversidade das formas de vida que restam. Essas palavras formam textos em movimento, perecíveis, mutáveis, evocados (entre eles destaca O último dos moicanos, de James Cooper), que constituem o alicerce plural de um livro que ensaia múltiplas direções para o pensamento em alerta. Aqui se reúnem fragmentos de livros, rastros, citações de cientistas e poetas, como se fossem quipus, isto é, conjuntos de nós que guardam informação e sentido, aos quais a nova leitura (anacrônica, imprevista) confere clarividência. Um desejo apaixonado guia a reflexão: pensar o limite, pensar até o além, como na poesia, para superar as fronteiras do nosso mundo em desaparição, nós sem mundo: “encontrar um modo para pensar num outro modo como viver. Alguma coisa que ainda não tenha sido pensada. Pode fazer isso a poesia? Pode fazer isso a literatura?” Meritxell Hernando Marsal
clareia,
toma uma luz
própria que vem de dentro,
filtrada, assim
você toca o clarão
vermelho sob a pele
clara das mãos, branca das mãos,
transparente
Roland Barthes, ao falar uma vez sobre o artista que mais amava, Cy Twombly, utilizou a categoria de rarus, em latim “o que tem intervalos ou interstícios”: “raro, poroso, espalhado é o espaço de Twombly”. Do poeta que foi seu mestre, Mallarmé, o grande pintor Cy Twombly, que chega na Itália saindo do outro lado do oceano, pegou a preferência pela cor mais rara, tão rara a ponto de se ter dificuldades para pensar nela como uma cor: branco. Branco é a cor da poesia, também porque suas palavras boiam raras, em geral, no espaço angustiado da palavra vazia. Uma coisa é certa, desde sempre: é a cor de Laura Pugno, cuja poesia tem como base — diz bem Patricia Peterle — o princípio da rarefação. O manto de neve deste livro extremo intitulado ao branco, ao modo oriental desde sempre próximo a esta escritora, é sinal de um luto impronunciável. E então me lembro de um poeta que, em sua obscuridade, parece o oposto de sua ofuscante limpidez; e que, ao contrário, se parece com Pugno, aqui, numa medida perturbadora: Paul Celan. Os rastros que adivinhamos na neve são como os de Robert Walser, fotografados no último passeio nas fronteiras do nada. Por sorte, no final, aflora o lampejo de algum calor. “A mente”, dizia Sirene [Sereias] — o livro que fez de Laura Pugno o que é —, “é vapor que se levanta de uma cumbuca de arroz”. Andrea Cortellessa
Laura Pugno – (1970) nasceu e mora em Roma. Seus livros receberam prêmios na Itália e estão traduzidos para várias línguas. É uma das editoras da coleção I domani da editora Aragno. Organizou e idealizou o festival de poesia I quattro elementi (Madri 2018-2019) e o podcast Oltrelontano. Poesia come paesaggio. Escreve também para cinema e teatro. Faz parte do comitê do Prêmio Strega Poesia. Foi diretora do Istituto Italiano di Cultura de Madri. É tradutora do inglês, francês e espanhol. É possível acompanhar suas inúmeras atividades em www.laurapugno.it.
Tarso de Melo – poeta e editor. Coordena o Círculo de Poemas, coleção de poesia da editora Fósforo. Doutor em Filosofia do Direito pela USP, atualmente realiza pós-doutorado em teoria literária na UNICAMP. É autor de “As formas selvagens da alegria” (Alpharrabio, 2022), entre outros livros.

Patricia Peterle – tradutora, poeta e professora da UFSC. É pesquisadora do CNPq. É uma das responsáveis pelo Dicionário da Literatura Italiana Traduzida (dblit.ufsc.br). Traduziu G. Pascoli, G. Caproni, E. Testa, V. Magrelli, M. G. Calandrone, A. Zanzotto, G. Agamben. É autora de À escuta da poesia (2023), Quando a língua bate (2024), Perdi o peão, mas aceito jogar (2024).
Claudia Lamego – Mestranda em Literatura da UFF. Jornalista com experiência no mercado editorial. Mediadora de clubes de leitura na Janela Livraria, no Clube F. da Bazar do Tempo, na Livraria Alento e no Instituto Italiano de Cultura (RJ). Também faz mediações em festivais como a Flip e a Bienal do Livro. Desde 2023, escreve a newsletter Os livros da Lamego.
Lucia Watagin – Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada e Livre-docente pela Universidade de São Paulo. É professora de Literatura Italiana na FFLCH-USP. Publicou pesquisas na área dos estudos de literatura italiana, da recepção e tradução da literatura italiana no Brasil e organizou edições em tradução brasileira de coletâneas de contos italianos e da poesia de Giuseppe Ungaretti, Dino Campana, Umberto Saba, Valerio Magrelli, Eugenio De Signoribus, Antonia Pozzi, Daria Menicanti.
Meritxell Hernando Marsal – professora no Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da Universidade Federal de Santa Catarina. Sua pesquisa está voltada para as relações entre feminismos, literatura, tradução e poder. É tradutora do catalão em parceria com be rgb, e tem traduzido para o português obras de Maria-Mercè Marçal, Montserrat Roig, Marta Orriols e Eva Baltasar.
Tiago Pinheiro – professor de Teoria Literária do DLLV-UFSC. Pesquisa literatura latino-americana contemporânea e poesia brasileira. Atualmente prepara um livro sobre Patrícia Galvão.
Sergio Romanelli – Professor Doutor, classe Associado IV DE, no Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da Universidade Federal de Santa Catarina. Diretor do CCE. Tem experiência na área de Linguística aplicada ao ensino/aprendizagem de LE e tradução e em Crítica Genética.. Coordenador do NUPROC – Núcleo de Estudo de Processos Criativos (www.nuproc.cce.ufsc.br),. Tradutor (Virgillito, Alberti, Speroni, Espanca,,Twain, etc.) poeta e cantor.
Agnes Ghisi – mestre em literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atua como professora, revisora e tradutora. Traduziu textos de Giovanni Raboni, Patrizia Valduga e Cesare Pavese.



































